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Um caminho, árvores, sombra, sol, uma casa enseada, um campo, os bem-te-vis, rolinhas, periquitos, pipiras, bicos de brasa, anum, canários, japins, japiaçocas, tejus… Era a Enseada das Formigas, bem próxima a Piçarreira, daqui pra lá não mais que meia dúzia de casas formava o caminho.
Nessa área de campo alagável e pela proximidade do Lago do Aquiri, era muito comum ver passar canoas cheias de curimatãs, pescadas, surubins, traíras, Piranhas, gordas e ovadas. Depois da domingueira maravilhosa, havia o retorno, à tardinha quando o sol se ponha, ainda que o trajeto de ida e volta fosse feito a pé, não restava nenhum cansaço aparente, o que havia eram os planos do próximo domingo e nossas preces para que a semana passasse rapidinho.
Para trás ficava a casa, o sítio, a água coberta de aguapés, delicadas, belas, o sol que tinha ficado na nossa memória com seus raios refletidos na água morna e calma, já com os traços de que uma linda lua viria continuar aquele espetáculo da natureza.
A água no inverno parecia querer invadira casa de tão perto que chegava, quando o inverno era maior, era colocado tábuas e terra para melhor proteger a entrada do rancho de palha, mas esse era o melhor inverno, com bastante água e peixes, dava pra olhar da janela as piabinhas e piranguiras bem próximas e até pescá-las de anzol.
As japiaçocas e jaçanãs faziam nossa acolhida, sobrevoando nas moitas de aguapés, as garças e guarás, também faziam seus bailados. Embora houvesse duas estações, nenhuma era desmotivadora de nossos passeios, pois quando não era a água pro banho e pescaria, era o capim verde, pra jogar bola, andar de bicicleta, á cavalo e também passear a pé. No trajeto até o sítio de João Neves, havia dois caminhos de terra firme, e era possível no inverno ir também de canoa, o comum era irmos por terra, passando por Luís Machado, tio Biné, Faustina, Abraão e a família Araújo, até chegar a cerca grande, que indicava a tão esperada chegada. Antes mesmo de chegar, os mais afoitos se apressavam, retirando a roupa mais novas e vestindo os calções e shorts, próprios para o banho de campo, e esperando o comando dos nossos pais. Junto ao banho, havia também as pescarias, de anzol embaixo dos tucueiros, ou marajazeiros, era só cavar e retirar do solo fofinho, as minhocas ou fazer um pouco de angu de farinha d’água, quando não eram usados mesmo os pedacinhos de carne que eram levados para nossas comidas, pra fazer a variação entre peixes, patos ou galinha da terra (galinha caipira) nesse local, eram pescados as espécies menores e principalmente o bagrinho. Muitos foram os dias bons que marcaram nossa infância.
LAURINETE COSTA COELHO
Graduada em História pela UEMA. Especialista em Ensino de Ciências Humanas, professora, escritora, cordelista e compositora.